quinta-feira, 7 de abril de 2016

O esforço pelo espírito na medicina

Não foi minha ideia, mas inventaram de me convidar para ser orientador de uma liga acadêmica que quer trabalhar o tema saúde e espiritualidade. 

Agradecido, comecei a planejar as ações, e conceder meus momentos de descanso para o crescimento desse projeto. Todavia, poucos que somos, parecemos perdidos. Recentemente fizemos uma seleção para conquistar mais braços, ou corações. Foi um fiasco. 

Variamos entre três a cinco pessoas que pelejam por tentar mostrar trabalho e fazer fermentar nossos anseios. As reuniões, contudo, quando não estão esvaziadas de gente, o estão de ânimo. As atividades curriculares esmagam qualquer tentativa de busca de novos horizontes. 

Falando com um professor de sociologia, que, por uma graça de Deus, leciona no mesmo curso médico - um professor de sociologia na faculdade de medicina! - ele me conduz a pensar que o que talvez falte é a compreensão de onde diabos Deus ou o espírito estão presentes na práxis dessa profissão. É fácil participar de uma liga de atenção primária. Vai-se à comunidade, aferem-se pressões, medem-se glicemias, constatam-se peso e circunferência abdominal, pronto! Temos uma informação mínima sobre risco cardiovascular e já podemos conceder alguma orientação que pode modificar a vida da pessoa. 

O que uma liga de saúde e espiritualidade faria no mesmo local? Essa é nossa grande dúvida. Como tornar o nosso fazer palpável?

- Sente-se. Vamos conversar sobre angústias. 

Seríamos, então, uma liga de psicanálise. 

- Não. Vamos falar sobre outro tipo de angústia: a da morte. 

Seríamos, então, tanatólogos. Porém, onde encontrar pessoas que carecem falar sobre as angústias da morte, sobre a dimensão do espírito, sobre a criação de tudo, e como isso pode influenciar no seu bem-viver? Chegar em meio à uma praça pública e questionar sobre o sentido da vida. Oh! Daimon bom de Sócrates, ajudai-nos!

As perspectivas em mente são tão distoantes de tudo o que fazemos no nosso dia-a-dia médico que temo conduzir estes meninos para um abismo de nossa profissão. Entretanto, exatamente por ser abismo é que precisa ser explorado. Este sentimento de "nada" é o mesmo que encontramos quando nos deparamos com vasto deserto. É inabitável? Não. É inabitado. 

Tivemos uma ideia, então, eu e o sociólogo. 

- Entremos no deserto. Sintamos a angústia do nada. Vamos conhecer as criaturas estranhas que nele se escondem. E que sentimentos elas nos passam. A lacuna que ele suscita em nós. 

- Chamemos isso de "territorialização epistemológica". 

- É apenas um nome. Poderia ser "caminhar". 

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