quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Conhecendo o território dos homeopatas

Então, como havia falado alguns posts atrás, estou entrando no território dos homeopatas. 

Assim como em todo país, acreditamos ser unidos por um só nome, haja vista, nação, mas as tribos traem essa imaginação. Começando por estudar a homeopatia pela sua raiz, vou pensando que todo homeopata segue Hahnemann a risca e enxergo o óbvio: toda popularização perverte a origem dos princípios. É a lei do universo na ideia do Big Bang. No princípio era um ponto, então se espalhou, explodiu para todos os lados, partiu em bandas. 

Levei meu filho para a banda de um homeopata organicista e não unicista. Unicista são aqueles que, como o fundador, acreditam haver um remédio específico para a totalidade sintomática que você apresenta. Organicista seria aquele que devolve o seu olhar para a desordem das partes e vai buscando as preparações que tratam de calar apenas os sintomas, não se importando em desenvolver um pensamento sistêmico. 

Todavia, embora os unicistas me encantem, pela beleza da teoria, este organicista para quem levei meu menino me deu saudades. Lembrou-me de papai. A consulta não era demorada, mas era amena. Uma barba cerrada ressaltava olhos curiosos pela história que a ele contávamos. Ao redor de si, meio desgrenhado como a sua barba, ostentava um consultório que expunha sua vida entre a natureza cuidada como os jardins ingleses, que deixam tudo crescer conforme a vontade de Gaia. Talvez esteja aí a explicação de seu organicismo. Ele joga com as fórmulas e as semeia no corpo dos meninos e meninas que o procuram. Deixa que cresça a cura, sem vontade de domínio, com o gosto de deixar aberta a porta para um retorno próximo a fim de contemplar o crescimento daquelas plantinhas. O homeopata unicista tem o espírito francês. Muito embora Hahnemann tivesse sido germânico, mas sua doutrina arraigou-se na França, seu túmulo fora semeado lá. Ler o Organon era como ver o método de Descartes em ação. Vai duvidando de tudo o que é alopático - e alopatia era tudo na medicina - para deixar vir o que considerou a verdade do ato médico: a cura pelos semelhantes. E mesmo, como Descartes, a validade deste princípio repousa sobre a bondade de um Deus que nos trascende e de nós cuida (depois falo sobre isso). 

Como dizia, lembrei-me de meu pai. Se algum carinho guardo por qualquer pensamento organicista é porque o velho pensava assim. Vi ainda o exercício de uma medicina que há quase dois séculos foi enterrada, aquela em que o médico se fia sobre as própria evidências que acumulou na experiência dos brancos fios de sua cabeça. "Não dê banho frio no garoto", orientava, "no outro dia estará doente!". A faculdade que me formou ordenaria que eu jogasse de volta nele um "qual a evidência científica que o senhor tem dessa afirmação?". Deixei de lado essa crítica, me valeu a saudade. 

Vou em busca de unicistas para aprender o outro lado. 

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