domingo, 5 de abril de 2015

Revolução no Ensino Médico

Acho que estamos passando por isso: uma revolução.

Saímos de um modelo de ensino em que os grandes especialistas estavam ali, a nossa frente, vomitando seus conhecimentos infinitos sobre nós. Esse modelo de ensino ainda é um do século XVI. As grandes autoridades eclesiásticas falam sozinhas em um púlpito para pobres de espírito a fim de que se iluminem.

A hiperespecialização da medicina escancarou nossa incondicional ignorância e necessidade do outro para, juntos, resolvermos os problemas que a realidade - sempre mais total que nós, estes seres lacunares - apresenta. 

Mas, nossos métodos de ensino nas escolas médicas (ao menos as cearenses) não cresceram assumindo essa necessidade do outro. Há os métodos que pedem para o aluno ser completamente ativo, sem o professor: isso é gerar outro sujeito autônomo demais para crescer na alteridade. O que estou vivendo com os alunos do internato é algo completamente novo e mais verdadeiro. 

Temos alunos espalhados por vários setores da saúde que lidam com os pacientes com queixas de atenção primária. Até mesmo no mundo rural eles estão batendo ponto. 

Uma atividade onde todos se encontram na última tarde da semana foi programada. Para que? Para que discutíssemos temas que os ajudariam nesse périplo. 

- O que está acontecendo? Discutimos temas importantes, mas descasados com as dúvidas clínicas que surgem deles. 
- O que acontece, então? A desmotivação nos corpos, as mentes dispersas, o espírito ausente. A assinatura no papel é uma tinta borrada na existência. 
- O que pensei em fazer? Inicialmente fui atrás de especialistas para compor uma lista de problemas que eles acham prudente o médico recém-formado dominar a fim de conseguir tornar a Unidade Básica de Saúde da Família resolutiva, pelo menos no que tange o médico e suas habilidades. 
- Com que me deparei? Os internos se interessaram muito, mas quando dei abertura para uma aluna falar, ela me passa uma pequena lista com temas ainda mais básicos, ainda mais cotidianos, que gostaria de ter mais intimidade. 
- O que decidi fazer? Sem abandonar a lista dos médicos que consultei, convocar voluntários da sala para uma força-tarefa que me ajude a criar uma apostila respondendo as principais dúvidas que esta geração de internos apresenta. Formar uma comunidade de aprendizado, gestando um trabalho nosso que supra as carências. 

Eu sou um médico de família e comunidade. Adoro saber de tudo um pouco, mas há sempre e cada vez mais coisas que me escapam. Como professor, estou propondo sair do pedestal e me misturar com os alunos a fim de aprendermos juntos com a atividade de responder essas dúvidas do dia-a-dia. 

Perspectivas: O documento será elaborado no formato Google Docs, compartilhado via Google Drive para edição da equipe força-tarefa e comentários dos demais alunos. Ao final ou paralelamente, vou expô-lo aos preceptores e residentes de Medicina de Família do sistema unificado de ensino da Prefeitura de Fortaleza. Tenho vontade de fazer diálogos com especialistas, gravando os mesmos em podcasts, e propor inserir essas conversas de café de fim de tarde na página da Associação Médica Cearense. Isso poderá ajudar todos os médicos recém-formados que, hoje, são quase obrigados pelo governo a passarem de um a três anos junto com as populações de risco atendidas pelo Sistema Único de Saúde. 

Acho que vai ser muito divertido. Vamos ver no que vai dar!

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