segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Trabalhando em grupo

Fizemos hoje um trabalho grupal. Pesquisa primeiro e apresentação em seguida. 

Nunca me dei bem com trabalhos em grupo. Ficava sempre com os escorões, o que facilitava o processo: eu fazia a maior parte do trabalho e distribuía as funções. 

Trabalhar em grupo requer um pouco de abdicação de si para que o outro possa entrar na sua forma de existir e de resolver os problemas. Em uma sociedade que se guia por objetivos de produtividade, como são as escolas, fazer acordos de convivência deve ser uma atividade rápida. Não é de se admirar que escolhamos os nossos afins. A amizade promove uma parceria mais duradoura, cujos vínculos são mais remotos, mais profundos que a norma. 

No começo da faculdade, os professores sempre reservavam um tempo para o trabalho grupal, mas eu não estava mais entre escorões. Eram líderes de classificação que me circundavam, das mais diferentes escolas. Acho que foi isso que me deslocou. De alguma forma comecei a flutuar nas discussões. As tarefas escorregavam pelas mãos. Os olhos não se fixavam nas tentativas de consenso. 

Ainda tinha poucos amigos, também. Três ou quatro pessoas que conhecia do ensino médio e com quem ainda não tinha tido maior contato. Foram esses que me ampararam. Porque a norma pedia que fossem formados grupos, e a amizade abriu o coração para que ele se perpetuasse, até o fim, por todo o dia, para além da faculdade, portanto, para além da própria norma. 

Diz Sponville: "Para que falar de moral, se não faltasse amor?". Nesse contexto: Para que falar de obrigação (tarefa, dever), se não faltasse amor? Amor pelos estudos: professor nenhum precisaria falar que "cai na prova". Amor pelos companheiros de jornada: não precisaria ordenar que se separassem em grupos, já o fizemos. Foram eles que me acobertaram quando eu não havia preparado nada, e foi quem sentou comigo quando não conseguia estudar. 

O espírito mergulhava em um mundo novo: sem a pressão de dar resposta a uma mensalidade (universidade pública), sem boletim para mostrar aos pais, com uma vida completamente imersa em outra esfera. Saí, enfim, de casa e estava para me tornar cidadão do mundo. 

Com essas pessoas aprendi tanto a ser um feixe que hoje componho músicas com um deles. Mando a letra, ele logo me responde com a melodia. Muda, então, a letra, uma mudança que eu já previa. E feito um sinfonia, a amizade segue sua doce monarquia - ela só, suficiente, e vitalícia. 

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